sexta-feira, 24 de outubro de 2014

INESPERADA CAÇADA EM CÓRDOBA (ANDALUZIA)


Estávamos no ano de 1975.
Desempenhava as funções de Director de Información Y Turismo em Espanha (Galiza).
Tive a honra de fazer muitos amigos...
Fui ao casamento dum casal de excelência, o José Luiz e a Mercedes com residência da Cidade de Lugo.
Acompanhei-os numa viagem de Lua de Mel até Lisboa.
Foram meus convidados e de minha mulher durante quatro dias.
Além de Lisboa, onde se instalaram no Hotel Fénix, situado na Praça Marquês de Pombal, levamos os nossos amigos galegos a conhecer Estoril,
Cascais, Sintra e outras cidades e vilas mais próximas da capital e de características específicas no turismo.
Mas, voltando ao Lugo (onde tudo começou, e, antes do casamento, quando me encontrava na Gestoria do meu amigo Alfredo Mosteirin, foi-me apresentado um jovem advogado, de seu nome Jesus que gentilmente me convidou para assistir a uma montaria na cidade de Córdoba.
Jesus era um dos organizadores das caçadas (aos veados e javalis) na região andaluza.
Seria a primeira vez que nos era grato (a mim e a minha mulher) estar em algo de tão invulgar.
As Montaria teriam lugar a 16 e 17 de Novembro. A primeira teve lugar na mancha de Bayón na Aljabara de Cardenas e a segunda na Aljabara de Spínola.
Por casualidade o meu amigo José Luiz era um dos caçadores inscritos e, aproveitámos para partir nos nossos carros de Lisboa para Córdoba.
Na sexta feira, dia 15, chegámos a Cordoba pelas 21 horas. Ficámos instalados no Hotel El Cordobés.
Cansados da viagem que havíamos empreendido desde Lisboa, mais nos apetecia ficar no hotel a dormir.
Mas, a essa mesma hora tinha lugar o primeiro acto da caçada, no melhor restaurante daquela Cidade. E foi no Restaurante Caballo Rojo que se juntaram todos os monteros (caçadores) e convidados onde foi servido um Vinho Espanhol género Pôr de Sol português.
Seguiram-se os sorteios dos postos de caça e ao serem chamados os monteros, ficámos surpreendidos quando ao nosso lado se encontrava Sua Alteza Real a Infanta de Espanha, Princesa Alicia de Bourbon.irmã do Conde de Barcelona e, portanto tia do então Príncipe Juan Carlos (mais tarde Rei de Estanha).
Trocámos impressões, disse-me que adorava caçar e, a determinada altura, quando começaram a servir as entradas, os frios e outras iguarias, a Princesa Alicia disse-me: o que eu não gosto é de este género de comida... prefiro um bom bife. E, eu, com a minha sinceridade disse:... também gosto mais dum bife.
Então ela. chamando o gerente do Restaurante pediu-lhe que preparassem dois bifes. E, assim foi que fiquei amigo dum dos elementos proeminentes da Coroa de Espanha.
Além de sua Alteza Real, dos cento e cinquenta caçadores, destacavam-se ainda muitos nobres de Espanha e a mais alta sociedade daquele país, além de alguns estrangeiros, idos propositadamente de seus países.
Soubemos que entre os monteros se encontrava um português.
Porque a nossa qualidade de convidado nos permitia fazer um safari fotográfico propusemos fazer um trabalho o mais completo possível.
Assim, depois do pequeno almoço que nos foi servido na cozinha de caçadores de La Aljabara de Cardenas, foram-nos entregues "tacos" (lanche para o monte).
Deram-se a saída das armadas (grupos de caçadores distribuídos por diversas zonas) às 12 h00.
E nós penetramos na zona de caça, armados com uma máquina de filmar e outra de fotografar. Percorremos cinco quilómetros a pé dos onze da jornada. Ao nosso lado uns setenta cães de caça dos quase mil que compõem o grupo de assalto, com as línguas de fora, atentos aos gritos dos seus condutores a que dão o nome de "Perreiros".



Cansadíssimo, sempre com atenção às maquinas de filmar e fotografar, a determinada altura decidi pôr o saco de plástico do taco no chão. Entretanto alguns cães aproximavam-se e eu quiz fazer algumas fotos dos mesmos.
Quando terminei esse trabalho, e pretendi usufruir do meu lanche do momte, o saco estava desfeito e os meus "amigos perros" só me tinham deixado uma lata de refrigerante. Sandes e fruta tinham desaparecido.
Valeu-me ter encontrado dois pastores que estavam sentados debaixo de uma árvore a descansar e a lanchar. Ofereceram-me comida e eu aproveitei a oportunidade para comer alguma coisa que me soube divinamente.

Dali já não saí. Esperei que passasse um dos carros que recolhia os caçadores e voltei à Aljabara desfeito. Entrei no meu carro e adormeci. Fui acordado mais tarde por minha mulher que tinha ido em conjunto com as outras senhoras (mulheres dos caçadores) fazer uma visita aos monumentos de Córdoba, (entre eles a célebre Mesquita) e foi encontrar-me a dormir o sono dos justos.
No dia seguinte, já não fui a pé.
Juntei-me a uma armada e levei a minha mulher. No cimo de um monte ficámos em posição privilegiada para, com os binóculos podermos apreciar o que se passava à nossa volta.
Mais tarde, na Aljabara de Spínola fiquei a saber que o seu proprietário era primo do nosso General António de Spínola.
No final de cada caçada, eram expostos os veados e javalis para serem medidas as astes nos primeiros e os dentes nos segundos. A partir daí, de acordo com as medições eram atribuídos prémios aos caçadores.



A título de curiosidade informo que era proíbido caçar veados fêmea para conservação da espécie.
Comemos excelente carne de veado, ficámos com saudades e regressei ao Lugo, onde tinha deveres a cumprir. Minha mulher ficou em Portugal com o nosso filho Pedro Miguel, alternando a sua presença entre a nossa casa da Póvoa de Varzim e a casa de meus sogros no Alfeite.



9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Fiquei completamente encantada com este seu artigo! Como sempre a sua escrita enleva qualquer espírito,por muito triste que esteja!
    Estou muito honrada por me ter escolhido como sua amiga e enviar-me tantas coisas bonitas e eu tenho aprendido tanto consigo!
    Fiquei com um pouquinho de "inveja" de não estar lá!
    Muito obrigada,meu querido Irmão do Coração!
    Um grande beijo de carinho da sua Mana,

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    1. Só hoje tive o grato prazer de ler este comentário que a mana teve a gentileza de me dirigir e não me surpreende os seus elogios e as suas palavras de excepção.
      Temos que renascer outra vez para conseguirmos atingir os mesmos objectivos. Certamente que gostaria de ter ido comigo e com a minha mulher assistir a uma Montaria em Córdoba.

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    2. Nem imagina quanto! Sempre fui muito aventureira e tudo o que seja desafio para mim é ideal!
      Quem sabe,talvez na próxima vida venhamos mesmo irmãos!?!
      Vai ser uma "Farra",inesquecível.

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  3. Ah que maravilha! Que texto delicioso, fluido!
    Muito obrigada querido Irmão por convidar-me ao teu blog.
    Adorei ler esta grande aventura, senti como se eu lá estivesse junto à nobresa espanhola, e cercada de tantos cães e obsevando os veados abatidos

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    1. As delicias mais importantes vêm de outros computadores que não o meu. Como é o caso da minha nobre e digna mana - a Grande Patrícia.
      Realmente foi uma aventura fantástica.
      O que não gostei foi que o abusador do "perro" me tivesse comido o taco.

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  4. Pois eu ri-me às tantas imaginando a pitoresca cena! Kkkkkkk

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    1. Bem... minha mana Patrícia,. Riu-se da cena mas desta que lhe vou contar ainda se vai rir mais. No segundo dia, quando fui para o monte com a minha mulher para assistir de longe a certas partes da Montaria, estávamos tranquilamente a observar o que os nossos binóculos podiam alcançar, quando ouvimos perto uma agitação entre os arbustos que nos rodeavam. Estranhamos pois ali não era suposto haver mais ninguém a não ser nós.
      É, quando menos contávamos, a cerca de cinco metros sai um "Javali" tresloucado em acção de fuga aos cães que o perseguiam. Bolas...que susto.

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    2. Por Deus! Que perigo mano! Imagino o tamanho do susto! Kkkkkkkkkkkk

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