terça-feira, 25 de novembro de 2014

A PROBLEMÁTICA DE VIZELA - ELEVAÇÃO A CONCELHO

1980 - 1981 - 1982



UMA DETERMINAÇÃO DOS VIZELENSES...

Alguma situação invulgar se passava em Vizela. Punha-se um problema. Com Vizela elevada a concelho, Guimarães ficava sem menos uma freguesia.

Apercebemo-nos disso ao assistir nos diversos canais de televisão e nos jornais diários, com grande destaque ao levantamento dos carris dos comboios na estação dos Caminhos de ferro naquela freguesia do concelho de Guimarães.
Estação da CP
Também assistimos ao levantar das pedras das calçadas daquela localidade para vedarem a circulação automóvel.

Conclusão: os habitantes de Vizela estavam em "pé de guerra" contra o Governo que insistia em negar a elevação de Vizela a concelho.
Centro de Vizela

Meu saudoso amigo Dr. Américo de Sá, Presidente do Futebol Clube do Porto, e deputado na Assembleia da República, era um dos maiores intervenientes neste diálogo de surdos.  
Dr. Américo de Sá

Contava-nos um dia «com desespero» que não conseguia fazer nada e que, sempre que o encontravam as pessoas de Vizela insistiam para que ele tentasse ajudar a resolver o assunto junto dos membros do Governo.

Acontece que nós conhecíamos a maior parte dos industriais de Vizela. E, sem pretender meter-nos no assunto, acabámos por ter de ouvir o que não queríamos pois sabiam que nós conhecíamos bem alguns governantes.

É, num desses desabafos que tivemos de ouvir, compreendemos que havia um homem que se encontrava entre a Espada e a Parede. Esse homem era o nosso amigo Manuel Campelos
Manuel Campelos

que era, simultaneamente Secretário do Movimento de Elevação de Vizela a concelho e (por incrível), vereador da Câmra Municipal de Guimarães.

Na primeira situação, tinha de defender com determinação a elevação de Vizela a concelho «porque a Família Oliveira» dos mais importantes industriais de Vizela, eram seus patrões e estavam por detrás do movimento. E, na Câmara Municipal de Guimarães, tinha que votar contra, «alinhando com a maioria».
Câmara Municipal de Guimarães


Num dia, (nós visitávamos muito Vizela) ele estava desesperado.
Dizia-nos: veja lá que até um jornal fez uma edição especial com o apoio de todas as industrias de Vizela e garantia que Vizela iria ser elevada a concelho. Quem o veio fazer foi uma jornalista conhecida do Chefe dos Serviços de Turismo de Santo Tirso (do Partido Popular Monárquico) que garantiu em nome do Arquitecto Ribeiro Teles - Presidente
Arquitecto Ribeiro Teles

daquele Partido e membro do Triunvirato da AD que a elevação de Vizela tinha todo o apoio de Lisboa e quem estava a travar essa elevação era Guimarães.

Então, contou-nos: enviámos faxes para o Vice-Primeiro Ministro e não obtemos resposta.
Dias mais tarde, ao lermos o jornal Expresso vimos que o aludido Vice-Primeiro Ministro tinha dito ao Arquitecto RibeiroTeles - deixe-se de veleidades monárquicas quanto a Vizela. E disse algo mais que não devo escrever neste apontamento.   

Lembramos-lhe que, estando o Primeiro Ministro em exercício de funções (era o Dr. Pinto Balsemão), toda a correspondência era encaminhada para o seu Gabinete. 

Por isso, o Fax enviado para o Vice-Primeiro Ministro tinha sido canalizado para o Gabinete do Dr. Balsemão.

Mas a situação foi-se agravando. As manifestações aumentavam e estava já marcada para o dia seguinte uma deslocação de milhares de pessoas  à Assembleia da República para dentro do Parlamento fazerem ouvir a sua voz.




Ficámos preocupados. Sabíamos que com os ânimos exaltados muita coisa poderia acontecer. Lembrámo-nos  então de avisar telefonicamente os presidentes dos Grupos Parlamentares 
Plenário da Assembleia da República

do que se estava preparando em Vizela.

E, no dia seguinte, lá seguiram para a Assembleia da República os representantes de Vizela. 

Revistados à entrada, parecia correr tudo bem. Mas, com gritos e insultos, acabaram por atirar sobre os deputados tudo o que traziam nos bolsos, tal como isqueiros, corta unhas, etc.. Que o diga a Deputada Dona Joaquina, que foi surpreendida com um corta unhas na cabeça.

Mas a "Guerra" continuou e, sinceramente nós não nos sentíamos muito bem sempre que tínhamos  que fazer uma visita a algum
Industria de Vizela
industrial de Vizela.

Até que nosso amigo Manuel Campelos nos disse:

Enquanto Vizela não for concelho não venha cá mais. E, quando for concelho vamos encher o lago de champagne e 
Praça onde se encontra o lago

distribuir pão de ló por todos os que nos visitarem.

Durante meses não fomos a Vizela...
Outros compromissos nos absorviam...

Era uma "Guerra" de que não faziamos parte e não estávamos na disposição de assistir a actos menos dignos, tanto por parte do Governo como dos Vizelenses.

Voltámos depois de Vizela ser concelho.

Manuel Campelos já não era vereador na Câmara de Guimarães. 

Estivemos alguns anos sem o ver.

Mais tarde, encontra-lo quando realizámos com a Comissão €uro do Ministério das Finanças uma conferência sobre o futuro aparecimento daquela moeda em Portugal.

Foi um abraço de amigos, a alegria do reencontro e a satisfação por Vizela já ser concelho.

Manuel Campelos era agora Cidadão Honorário do Miuicípio de Vizela. Bem merecida esta distinção.
Câmara Municipal de Vizela

Quanto ao chanpagne e ao pão de ló de Vizela não sabemos quem o bebeu e comeu, nem tampouco se tal ideia se concretizou...

Nós não fomos.

Quisemos, uma vez mais ficar com a honra do dever cumprido...

2 comentários:

  1. Como sempre muito interessante este seu artigo. Gostei muito e lembro-me bem de todas essas peripécias que aconteceram na Assembleia da República!
    Nessa altura ainda tinha a minha mãe e as duas comentàmos que tudo aquilo era uma vergonha! Esta era a nossa opinião!!

    E continuamos a passar por vergonhas enormes!
    Eu penso assim,porque fui educada por pais que me ensinaram que o nosso nome era muito importante,e não devíamos fazer nada para o "sujar". Mas tambem eram outros tempos!

    Mais uma vez muito obrigada por esta narrativa tão interessante.
    Um abraço carinhoso da mana Maria Manuela

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    1. As minhas peripécias junto da Assembleia da República, e junto dos Vizelenses foi, nada mais nada menos do que tentar evitar uma situação de graves confrontos.

      Sempre atento ao que se passa, e mercê de minha actividade, tento ser o mais lúcido possível para enfrentar toda e qualquer situação.

      Quanto às vergonhas enormes, infelizmente estamos sujeitos a elas. Quem havia de dizer que um grupo económico como é o caso do Espírito Santo levaria o país a um descrédito destes ?

      Olhe mana...Que Deus nos ajude. Bem merecemos.

      Um beijinho do mano Eduardo

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