domingo, 9 de novembro de 2014

NOIVOS DE SÃO JOÃO - 1976


Era costume em anos anteriores o Jornal "O Comércio do Porto" levar a efeito a realização dos Noivos de São João no Porto, a exemplo dos Noivos de Santo António que se realizam ainda em Lisboa.

Incorporado nos quadros do aludido diário, e passados alguns meses sobre o êxito do Mapadi na Póvoa de Varzim, o Presidente do Conselho de Administração do "Comércio do Porto", o deputado Dr. Adalberto Neiva de Oliveira, conversando comigo disse-me: o Eduardo é que podia agarrar no Projecto dos Noivos de São João, interrompido há alguns anos.


As noivas



Sinceramente, eu nada entendia deste género de realizações. Mas, a consciência determinava que eu não podia dizer que não. 

E em casa, trocando impressões com minha mulher, acabei por resolver aceitar o convite. Se desse para a parte negativa, o mais que poderia acontecer seria ser criticado. Mas, eu nunca me habituei a deixar as coisas por metade. E...mãos à obra.

Procurei saber junto de quem havia tido a responsabilidade de realizar os eventos em anos anteriores. Mas, a pessoa em causa procurou desanimar-me dizendo que era tudo muito difícil pois o "Comercio do Porto" tinha que se responsabilizar do primeiro ao ultimo segundo e as pessoas que tinham colaborado anos atrás estavam saturadas de tanto contribuírem.

Mas isso não me desanimou. Pensei como antigo combatente: Se eu fiz parte da guerra no Ultramar e não matei nem feri ninguém,porque hei-de ter medo agora ?

E, sentado no escritório de minha casa, comecei a concepcionar um plano de actuação.


A Igreja de Campanhã


Deliberei que nesse ano, os noivos não fossem só do Porto, mas sim de todo o distrito. Assim, abri inscrições nos concelhos de: Amarante, Baião, Felgueiras, Gondomar, Lousada, Maia, Marco de Canavezes, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia.
O interior da Igreja





Comecei por pedir ao Director do "Comércio do Porto" que o jornal se responsabiliza-se pela aquisição dos vestidos das noivas, dada a circunstância que eu na Póvoa de Varzim não tinha estabelecimentos suficientes dentro desta especialidade para conseguir 17 vestidos. E, depois desse compromisso por parte daquele dirigente do diário, eis-me a dar inicio à minha tarefa «e que tarefa» na minha cidade de adopção.

Comecei por telefonar para a MACONDE e pedi para falar com o meu particular amigo, Dr. Fernando Aurélio, Administrador Financeiro daquela unidade industrial. Expliquei-lhe que estava a falar-lhe para pedir que os fatos dos noivos fossem uma oferta daquela prestigiada empresa. A resposta que este amigo me deu foi: nem pensar nisso...não damos nada para esse jornal pois falharam nos anos anteriores não correspondendo à permuta que tinha sido combinada. Bem...mas eu tinha que ir à MACONDE para falar pessoalmente com o Dr. Fernando Aurélio. E fui. 
Recebido cordialmente com um abraço de verdadeira amizade, acabei por lhe dar razão e disse-lhe: Ó Dr., eu não tenho responsabilidades sobre o passado e, por favor não me deixe ficar mal. E, a verdade é que saí da MACONDE com a anuência do Dr. Fernando Aurélio para os noivos irem ao estabelecimento comercial que a empresa tinha na cidade do Porto para levantarem os respectivos fatos de noivo.


Empresa MACONDE


Fatos dos Noivos


Comecei, na Póvoa de Varzim a visitar todas as ourivesarias para conseguir a oferta de 17 pares de alianças e todas as confeitarias para conseguir 17 bolos de noiva, outros bolos e garrafas de espumante e outras bebidas.

O problema estava no almoço dos casamentos. Foi então escolhido por anuência dos proprietários o Hotel Dom Henrique no Porto.


Entrada do Hotel


Restaurante do Hotel


Mas, se o hotel oferecia o espaço, nós «eu» tínhamos que arranjar carne, peixe, pão, etc...

E, lá andei eu numa roda viva a percorrer todos os talhos da Póvoa de Varzim, onde arranjei a carne suficiente para a confecção do almoço.


Antigo Mercado da Póvoa de Varzim

Mas, o problema estava no peixe para se fazerem os filetes de pescada. Como hei-de arranjar tantas pescadas ? Surgiu-me então a ideia de falar com as mulheres dos mestres das traineiras que receberam a ideia com entusiasmo e, via rádio entraram em contacto com os maridos. Todavia, como havíamos de recolher o aludido peixe sem ir à lota ? Foi então que alguém me sugeriu: vá de barco para o centro do porto de pesca e, cada traineira quando for chegando vai passando para o barco uma ou mais pescadas. 
Porto de Pesca da Póvoa de Varzim

E, lá fui eu, sozinho com um pescador (que se encontrava em terra no momento) num barco que ele remava com determinação a velocidade vertiginosa pois a cada minuto aparecia uma traineira mais à esquerda e logo a seguir, outra mais à direita. 

O barquinho só não se virou pela perícia do homem dos remos.



Reunidos todos os ingredientes, foram levadas para o hotel e aí transformaram os mesmos num excelente almoço...almoço de luxo.

CURIOSAMENTE...

Além de tudo o que se realizou e que acima faço referência, como curiosidade, quero informar que por iniciativa da administração do "Comércio do Porto" foi sorteado um apartamento situado na Avenida da Boavista, gentilmente oferecido pela proprietária da empresa MAR E CÉU. 

Por ironia do destino, o casal contemplado foi o da Póvoa de Varzim. Apesar de não fazermos parte do júri do sorteio, muitas pessoas pensaram que os noivos poveiros tinham sido beneficiados pela circunstância de eu ter dado a cara pelo projecto.

Como estava em maré de sorte e porque me sentia realizado, aproveitei mais uma das minhas amizades, O Cunha da AVIC de Viana do Castelo, proprietário também da Quinta do Santoínho e consegui que ele, com o espírito de boa vontade recebesse naquele recinto todos os noivos de São João.





E A CONCLUIR...


Eu e os noivos da Póvoa aos quais foi atribuído o apartamento em sorteio

A noiva é filha do já falecido Senhor Alfredo que lavava os carros na Garagem Santos

11 comentários:

  1. Aqui vai mais uma vez a minha frase preferida: LINDO TEXTO!

    O meu mano Eduardo tem a certeza que não é da família do major Armando Lopes,meu pai?
    É que ele teria feito precisamente a mesma coisa,como fez em festas da Academia Militar!

    Um dia pode ser que lhe conte um acontecimento parecido passado com o meu pai. É de rir muito.

    Não o imaginava nada como Mestre de Cerimónias,mas fez um ótimo trabalho, e como sempre uma prosa que nos prende da primeira palavra à última!
    Fiquei encantada e ao mesmo tempo comovida porque me lembrou o meu pai!

    Um grande beijo de respeito e carinho
    da mana Maria Manuela

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    1. Pois é minha estimada Mana Manuela,
      Estava a ver que alguma asneira eu poderia ter feito e por isso impossibilitaria de a minha amiga não ter acesso ao Blogue.
      Mas, Graças a Deus eis que a tenho novamente a meu lado.
      Realmente não sou da família do Senhor seu Pai, mas até parece que,pelo que me conta somos muito parecidos em nossas acções humanitárias.
      Cá fico a aguardar a tal história para me rir.
      Espero que este dia 10 de Novembro, seja mais uma data a consagrar na nossa amizade a qual sublinho com um beijo de respeito e enorme consideração pessoal.

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    2. Claro que reconheci imediatamente o mano Eduardo junto dos noivos!
      Deixe-me dizer que possivelmente a noiva trá pensado:"Que pena não poder trocar!!""

      Como sabe na Academia Militar havia sempre a festa da Abertura da Ano Lectivo e tambem a festa dos Finalistas!

      Mas primeiro tenho de lhe dizer a Academia tinha uma parte na Amadora,os primeiros anos dos alunos,e lá, como era uma quinta muito grande,alem de horta tambem havia animais como vacas e porcos. A horta fornecia toda a hortaliça necessária para as cozinhas das duas Academias e tambem eram distribuidas pelos sargentos e um Lar de Freiras com crianças abandonadas ou famílias muito pobres.
      Foi ideia de meu pai apoiada pelo Comandante da Academia.

      Voltando às festas,principalmente dos finalistas,o comandante falava com meu pai para arranjar dinheiro,vendendo os animais que pudesse.Naquele tempo não pediam ajuda ao Estado Maior.

      Assim,em 1956/57 o comandante entendeu que os cadetes tinham de ter mais música,por causa das pausas não serem longas.
      Queria ter tres conjuntos para tocarem e duas pistas para dançarem,sendo uma no ginásio e a outra no pátio exterior.

      Meu pai disse-lhe que no pátio não podiam dançar porque o piso era de brita pequena.Resposta do General: Lopes arranja-se como puder,porque é assim que quero para não haver problemas com os alunos nos cantos com as pequenas. Enquanto 2 conjuntos tocam o terceiro descansa,revesando-se!
      Ordem dada!!!

      E o Capitão Lopes,depois de muito pensar, vai direito ao Coliseu dos Recreios e fala com o Ricardo Covões sobre o assunto e não é que ele dá a solução?
      Sr.Capitão leve a pista do circo,porque agora não temos espetáculo,e pode pôr cá fora!!!
      Assim foi! Uma noite de baile fantástica,os alunos agradecendo ao meu pai, o General dando-lhe os parabens e melhor de tudo eu podendo dançar sem o meu pai a vigiar!!!

      Como tambem um Homem das Arábias!!

      Um grande beijo de carinho e respeito por me deixar recordar esses tempos e o meu pai.
      Mana Maria Manuela

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    3. Só hoje tive o prazer de ler este seu escrito, com tantos pormenores e com o maior interesse.
      Quem como eu, gosta de contar as minhas experiências, necessariamente sabe dar valor a estas histórias de vida que, por exemplo a Mana me conta.
      Gostei de saber tudo e como curiosidade, eis mais uma novidade: Eu também fui amigo da Família Covões, pois como um dos redactores do jornal "Os Belenenses" na parte de espectáculos ia com muita frequência ao Coliseu dos Recreios.
      Parabéns para si e para as memórias do Senhor seu Pai, pelos vistos um Grande Senhor, um Digno Oficial e Cavalheiro.
      Um beijo do mano para a Manuela Lopes

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    4. Só hoje vi o seu comentário sobre o meu pai.
      Agradeço-lhe muito as palavras sobre ele! Tocaram-me profundamente,porque o mano Eduardo não o conheceu,mas só para fazer uma ideia da maneira de ser dele,vou contar-lhe um pouco da sua história.

      Meu pai assentou praça aos 21 anos como soldado raso e quando faleceu aos 69 anos era Major na Academia Militar!!

      Tinha na sua folha de serviço,que guardo com muito carinho e orgulho, como estava dizendo tinha 22 louvores, tres dos quais dados por Presidentes da Républica, era Cavaleiro da Ordem de Cristo,Cavaleiro da Ordem de Santiago e tinha a Roseta de Prata,condecoração máxima dada por serviços prestados à Pátria sem ser em actos de Guerra!

      Era este o meu pai do qual herdei a maneira de ser,o seu nome que uso com muito orgulho!!

      Desculpe este meu desabafo,mas é para saber um pouco mais dele.

      Um grande abraço carinhoso da mana Maria Manuela

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    5. Realmente quem começou do zero e foi progredindo na carreira militar merece não só os louvores que o Exército e o Presidente lhe atríbuiram e também as condecorações, como merece um Louvor público com grande destaque.
      Efectivamente, a mana Manuela tem a quem sair, pelo seu carácter, pela sua elevação de valores morais e pela simplicidade como se apresenta perante os outros.
      Para mim, é, indiscutivelmente, a Rainha das Manas do Facebook.
      Algumas pessoas, conforme me tenho apercebido só lhes interessa este sistema para encontrar parceiros de aventuras ou para outros fins que não passam de banalidades.
      Mas, quem sou eu para me pronunciar sobre essas pessoas ? Quem quer levar uma vida imprópria dos valores e costumes que dignificam o ser humano que o façam.
      Tendo muitos amigos, por vezes, não serão os amigos desejados mas que ostentam os tais valores negativos.
      É por isso, minha boa amiga que o Senhor Seu Pai serve de exemplo pela dignidade que teve pessoalmente honrando as Forças Armadas. E, note, quem o diz é um Amigo do Coração, o seu Mano Eduardo.

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    6. As suas palavras são muito carinhosas que me deixam comovida!
      Não mereço tanto porque me considero uma pessoa vulgar que tenta viver como os meus pais me educaram.

      Só em relação ao meu pai estou de acordo com o mano! Ele subiu a "pulso" na sua carreira,mas tambem em paralelo se desenvolveu em cultura ajudado pela minha mãe,que tinha mais instrução e cultura!

      A eles devo tudo o que sou!

      Um grande abraço e um beijo carinhosos da mana
      Maria Manuela

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  2. «O homem sonha e a obra nasce», assim poderia dizer depois de ler esta bela postagem do amigo, de facto é necessário um grande empenho e não será nada fácil que tudo assim aconteça, só com muito esmero e muita dinâmica, mas fazer ou trazer a felicidade a algumas pessoas, deve também trazer-nos uma grande satisfação assim creio. Também me sensibilizou todo este crer, toda esta força por parte do amigo Eduardo decerto terá boas lembranças que o farão feliz ao recordar, e nos dão também a alegria e o prazer de ler.Beijinho grande meu amigo e obrigada por partilhar...

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    1. Amiga Natália,
      As suas palavras são convictas e merecem a minha atenção para lhe agradecer as considerações com que se digna distinguir-me.
      São palavras de grande incentivo, como as suas que me dão forças para dar continuidade a este projecto que não tem mais efeitos do que trazer a público algumas memórias de minha vida.
      Uma vez mais obrigado pela sua delicadeza e elegância. Um abraço do mano...

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  3. Mais uma vez, sempre empreendedor!! Que se prolongue por muitos anos! Abraço

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    1. Sou um humilde servidor das causas dos outros e dedico-me com amor aos projectos de que sou incumbido ou mesmo dos meus próprios projectos. Obrigado pelas suas considerações. Um abraço do mano que muito a estima...

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