quinta-feira, 13 de novembro de 2014

GOVERNADOR CIVIL DE VILA REAL - ENGº. ESPÍRITO SANTO - 1971

AINDA SOBRE A EXPOSIÇÃO DE TURISMO E ARTESANATO DO NORTE


Edifício do antigo Governo Civil de Vila Real
Depois de ter visitado os concelhos dos distritos do Porto, Viana do Castelo e Braga, desloquei-me a Bragança.
Contactadas as entidades oficiais daquele distrito, somente foi possível a colaboração de duas câmaras municipais, respectivamente Bragança e Miranda do Douro. Os demais concelhos do distrito de Bragança não tinham disponibilidade económica para aderir ao projecto da "Carruagem Branca" e à Exposição que titula este texto.
Desanimado com Trás-Os-Montes, e para evitar uma viagem infrutífera ao distrito de Vila Real, telefonei para o Governo Civil e pedi para falar com o Governador Civil.

Atendido com grande generosidade pelo Governador Civil, Engº. Espírito Santo, pus-lhe directamente o motivo de meu telefonema e perguntei-lhe: Considera que o Distrito de Vila Real tem potencialidade para aderir ao projecto seguinte «expliquei ao pormenor todo o objectivo». 

A resposta não se fez esperar e fiquei surpreendido quando do outro lado da linha me foi dito: Evidentemente que sim. 
Venha até Vila Real e será recebido condignamente.
Durante a conversa, notei entusiasmo e determinação. Era uma personalidade que não conhecia pessoalmente mas que desde o primeiro momento causou uma empatia entre ambos.
Então, o Governador Civil de Vila Real acrescentou: Não tem necessidade de percorrer o distrito - vou ter um almoço em Alijó na Pousada Barão de Forrester onde terei uma reunião de trabalho com todos os presidentes de câmara do distrito e com os presidentes das regiões de turismo.


Pousada Barão de Forrester

Terminada essa reunião terei o maior prazer que venha almoçar connosco e, depois de almoço, poderá fazer uma exposição detalhada sobre o projecto.
E assim foi...
Estávamos nos primeiros dias de Janeiro, o frio apertava e naquela região transmontana era de grande violência. Mas, lá fomos,estrada fora, até Vila Real. Depois de sabermos qual a estrada em que teríamos de prosseguir para irmos até Alijó, onde estava combinado o encontro, quilómetros à frente, num cruzamento, parámos e, encontrando umas pessoas que calculámos serem da zona «pela forma como se vestiam» perguntámos: Por favor podem dizer-me se vou bem para Alijó ? 

Quase como se tratasse de um coro, todas me disseram em uníssono - sim é por esta estrada e, logo de imediato disseram: nós vimos de uma feira e vamos para Alijó. O senhor não nos dá uma boleia ?    

Evidentemente que a minha resposta tinha de ser positiva e de repente vejo a minha viatura a acomodar cinco senhoras, todas vestidas de preto, com alguns sacos de coisas que tinham comprado na feira.

A determinada altura, como não via Alijó, perguntei: onde fica afinal Alijó ? E, uma das simpáticas anciãs disse-me: É...ali...já...

Mas, o ali...já, ficava a cerca de 15 quilómetros. Quando cheguei ao destino, aquelas amigas saíram da viatura e eu, num olhar rápido para ver se deixavam alguma coisa, dei-me com a presença de alguma "bosta" de animal que teria ido agarrada aos sapatos das aludidas passageiras.

Dirigi-me então à Pousada e constatei que a reunião ainda não tinha acabado. 

Esperei pacientemente cerca de meia hora. E, passado esse período eis que surgem todos os intervenientes da reunião. Entre eles, o Governador Civil, Engº. Espírito Santo que nos recebeu com tanta dignidade que até parecia sermos amigos de longa data.

Seguimos para a sala do restaurante que tinha uma mesa enorme e onde estavam destinados para o almoço lugares para o Governador Civil,os presidentes das câmaras municipais de Alijó, Boticas, Chaves, Mesão Frio, Mondim de Basto, Montalegre, Murça, Peso da Régua, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, bem como os presidentes das Comissões Regionais de Turismo da Serra do Marão e do Alto Tâmega e, como é lógico, para mim.

Faltaram à reunião e ao almoço o Presidente da Câmara Municipal de Chaves e o Presidente da Comissão Regional de Turismo do Alto Tâmega por a estrada se encontrar intransitável pela neve e gelo caído durante a noite anterior.


Restaurante da Pousada Barão de Forrester


Após o almoço, o Engº. Espírito Santo fazendo as honras da casa, apresentou-me aos demais presentes e eu, calmamente, expliquei os pormenores do objectivo da Exposição Itinerante.

Notavam-se algumas hesitações entre os presentes mas o Governador Civil disse:- o nosso visitante tem mais que fazer e tem de voltar ao Porto rapidamente antes que o tempo piore. 

Assim sendo, eu assumo a responsabilidade em nome do distrito e resolvo que cada Região de Turismo participa com dez contos e a verba restante divide-se por todas as câmaras municipais. O nosso amigo Eduardo Serafim vai passar pelo Governo Civil, levando o contrato assinado, somente faltando o selo branco. Para isso, vou telefonar ao Secretário do Governo Civil para estar preparado.
Centro da Cidade de Vila Real

E, assim foi... de Alijó até Vila Real foi um pulinho. Até parece que ia de avião. Ao Chegar ao Governo Civil, lá estava o Secretário pronto para pôr o selo branco que autenticou o contrato.

Depois, de Vila Real, segui para o Porto e fui para minha casa na Póvoa de Varzim, onde descansei da viagem longa que tinha efectuado.

Tinhamos a "Carruagem Branca" a ser montada na Estação de Campanhã no Porto e, foi para aí que foi encaminhado todo o material dos diversos concelhos de Vila Real e dos demais distritos.

A inauguração da Exposição teve lugar na Estação dos Caminhos de Ferro de Viana do Castelo para aproveitar a deslocação àquela cidade do Secretário Nacional de Informação Dr. César Moreira Baptista que inaugurou também o Hotel Afonso III.

A seguir deu-se a apresentação na Cidade do Porto da Exposição (Estação de Campanhã) onde estiveram todas as entidades oficiais do Norte do país.

E, a partir daí, demos inicio à circulação por todo o país e deslocámo-nos à Galiza.

Durante este período, em todas as estações eram feitos convites às entidades locais e servidos vinho do Porto e Vinho Verde, bem como café. 
Também distribuímos miniaturas dos galos de Barcelos.

Foi um êxito, mas isso ficou-se a dever à colaboração prestada como pessoas da maior competência como foi o Governador Civil de Vila Real.

Do Algarve, dado o excepcional êxito que se estava a conseguir, escrevi um postal ao Engº. Espírito Santo a convidá-lo para estar presente no Peso da Régua quando a "Carruagem Branca" ali se deslocasse.


Estação de Caminhos de Ferro de Peso da Régua


E assim aconteceu. Além do Governador Civil, estavam todos os presidentes de câmara do distrito e os presidentes das Regiões de Turismo.

O Presidente da Casa do Douro, 


ofereceu ao Governador Civil três garrafas de vinho do Porto com mais de cinquenta anos - mas ele disse: Quem vai levar estas garrafas é o nosso amigo Eduardo Serafim.




Ainda me sobre uma garrafa...

Para recordar e ter saudades desses dias.



NOTA FINAL:
Infelizmente não tenho em meus arquivos nenhuma fotografia do Engº. Espírito Santo 

8 comentários:

  1. E cá estou eu com o meu dilema: que escrever?
    É que sem pedir licença a ninguem, lá vou eu na mesma viagem,de carro apertadinha,tremendo de frio com o tempo de Trás-os-Montes,reparando que a estrada parece não ter fim!!

    Realmente querido mano,foi um gesto muito generoso dar boleia às senhoras que iam para Alijó,mas (e há sempre um mas) o carro ficou um pouco "perfumado" demais. Valeu a intenção!!!!!

    Tudo o que se passou depois foi maravilhoso porque "eu estava lá"! Nem me viu.

    Mais uma vez parabens mano,os seus artigos têm este dom de me levarem aos sítios onde decorreram,levam-me a ver sítios que nunca vi, e,principalmente,deixam muito feliz!!!

    Perdoe esta ousadia,mas os bons escritores fazem estes "milagres"!!

    Um abraço e um beijo de carinho e respeito da mana
    Maria Manuela

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    1. Pois é.
      A minha Ilustríssima mana Maria Manuela Lopes andou anos e anos a descobrir aldeias, cidades e até pessoas que eu ao transitar por esse mundo fora nem dei por isso. Afinal, estava ao meu lado..
      Isso é bom. Quando gostamos duma companhia, ficcionamos algumas situações que, se ainda não aconteceram, passam a acontecer desde que passamos da nossa memória para algum lado e neste caso para o Blogue.

      Efectivamente quem já viveu tantos anos de actividades constantes, não se pode dar ao luxo de guardar só para si as delicias de momentos vividos com encanto.

      E eu, tenho a honra...grande honra de ter uma Super Irmã e Super Amiga que vai acompanhando estas minhas recordações.

      A propósito, uma curiosidade: quando transitávamos de Portugal para a Galiza, levávamos 50 quilos de café para servir nas estações da RENFE. Quando chegámos à fronteira, o cheiro na carruagem era tão forte que os "nuestros hermanos" não nos queriam deixar passar. Tivemos de recorrer ao nosso Consulado em Vigo e, só com a presença do Vice-Consul Victor Homem de Almeida foi possível ultrapassar esta situação. Mas, demorou algumas horas.

      São pequenos pormenores que nos fazem lembrar quanto foi fértil em acontecimentos esta nossa dinâmica.

      Um beijo de simpatia e consideração para a minha Mana Manuela.

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  2. Realmente o café é tão vaidoso do seu "perfume" que,por onde passa,deixa tudo impregnado do seu cheiro,paredes,salas,bancos e o próprio ar.
    É um autêntico denunciante atrevido||| Ainda bem que tudo se resolveu em paz!

    Muito obrigada pelas suas palavras,que não mereço

    Um grande abraço e um beijo de muito respeito da

    mana Maria Manuela

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    1. É mesmo verdade o que diz. Aquele cheiro delicioso do café deixa uma marca impossível de deixar de identificar.
      Para mais, quando na época era proibido o transporte de café e de outros produtos.
      Isso acontecia de Portugal para Espanha, como de Espanha para Portugal. Somente que de lá para cá os artigos controlados eram, por exemplo, garrafas de licor, que não podiam ezceder as três unidades.

      São tempos para esquecer.

      Mas, ao mesmo tempo, tempos para puxare pela nossa memória.

      Um beijo do mano Eduardo

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  3. Querido Irmão!
    Fico imaginando como é a sensação de satisfação que essas experiências lhe trouxeram. Quando parece que nada vai dar certo surge alguém com Boa Vontade como o Governador Civil e tudo passa a dar certo.Também eu vou com a querida Maria Manuela acompanhando-o nessa interessante viagem pelo tempo, sentindo cheiro hora de bosta, hora de café, kkkkkkk, tiritando de frio, acompanhando as refeições, as palestras, é tudo delicioso como deliciosa é a forma que escreves mano, que me atrai para este blog sabendo que terei momentos de prazer. Só tenho a agradecer!

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    1. Estimada Mana Patrícia,
      Apercebo-me que quando escrevo tenho sempre alguém que me dá valor.

      Entre as minhas amigas, merecem especial destaque a Patrícia Almeida e a Maria Manuela Lopes que, indiscutivelmente têm sensibilidade para receberem com entusiasmo as minhas palavras escritas, ao ponto de fazerem comentários muito a propósito e com enorme realidade. Realidade essa que se coaduna com os meus escritos.

      São grandes os incentivos que me transmitem e, por isso, dão-me força para continuar.

      Obrigado querida Mana do Coração...obrigada querida Patrícia.

      Que Deus nos dê muitos anos de saúde para podermos trocar impressões - mesmo que seja no Blogue.

      Beijos do Mano que te admira...Eduardo

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  4. Obrigada Grande Irmão, sinto-me como uma formiga que conquista a amizade à águia, que és tu, e tem a esplêndida oportunidade de voar de carona em suas asas!

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    1. Magnifica mensagem com comentário excelente. Não agradeço por mim, mas por todos nós que temos a honra de saber estar na vida com dignidade, amor e carinho.
      Que vivamos todos com esta simbologia para sempre.
      Beijos do mano...Eduardo

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