segunda-feira, 24 de novembro de 2014

SILVINO SILVÉRIO MARQUES - um português de elite

1962 - VIAGEM LISBOA-LUANDA




Lisboa
Luanda










Ido da Base Aérea 6 no Montijo, embarcamos 



num D C 6 da Força Aérea Portuguesa no Aeródromo nº 1 (Figo Maduro)no Aeroporto de Lisboa para Luanda. 
Aeroporto Figo Maduro - Lisboa

No percurso, fizemos escala no Aeroporto da Ilha do Sal em Cabo Verde.

Aeroporto da Ilha do Sal


Apresentamo-nos ao2ª
Apresentamo-nos ao Chefe do Estado Maior da 2ª Região Aérea, Coronel Manuel Diogo Neto,
Chefe do Estado Maior da FAP - Luanda
bem como ao Comandante da da Base Aérea 9, Coronel Carlos Galvão de Melo.
Comandante da BA 9 - Luanda


Assumimos desde logo as nossas obrigações na Base Aérea e fomos conhecer todas as infraestruturas aeronáuticas, a Base e o Aeroporto adjacente.

Alguns dias depois, chegava a Luanda um novo Governador Geral. 



Chamava-se Silvino Silvério Marques, era General e vinha de Cabo Verde, onde tinha desempenhado o mesmo cargo.
General Silvino Silvério Marques

Acompanhava-o sua esposa e todos os seus filhos. 

Mais tarde, viemos a saber que entre os caboverdianos residentes em Angola, muitos eram afilhados do casal Silvério Marques. 

O primeiro acto oficial do General Silvino Silvério Marques, foi uma deslocação ao Chitado - terra dos Cuanhamas 

Chitado
para ali colocar uma cruz

 onde recentemente tinha caído um avião com todos os elementos máximos do Exército, Marinha e Força Aérea.

Avião que caiu no Chitado


Fomos nomeados para prestar Guarda de Honra ao acto e, com uma equipa composta por vinte militares da Base Aérea, embarcámos num avião Nordatlas com destino ao Aeroporto de Sá da Bandeira (primeira etapa).

O Governador Geral de Angola deslocou-se num avião Cessna da DTA (Direcção dos Transportes de Angola) - era perigoso voar em aviões de grande porte.

Em Sá da Bandeira, alguns de nós ficámos hospedados no Grande Hotel da Huíla 
Hotel da Huila

enquanto outros ficaram numa unidade militar do exército.

No dia seguinte, saímos com destino ao Chitado e, ali chegados, fomos transportados do local onde o avião tinha aterrado até ao sitio onde seria colocada a cruz em viaturas de caixa aberta que eram utilizadas por comerciantes de gado (vacas) e, necessariamente não estavam limpas mas, isso sim, com "bosta" de animais nas carroçarias.

E, todos nós, com as nossas fardas de tirilene beje clara, ficamos todos sujos daquela inesperada situação.

Para piorar, nós que tínhamos os sapatos impecáveis, a brilhar, mal pusemos os pés no chão, ficaram brancos do pó das areias finas do Chitado.

Quando o General Silvino Silvério Marques chegou, nós que briosamente gostaríamos de estar a brilhar, parecíamos alguém que durante a noite nos  teríamos dedicado a recolher lixo.

O QUE ENCONTRÁMOS NO CHITADO

Os Cuanhamas e todas as suas tradições.:





A acompanhar o Governador Geral de Angola, encontravam-se os generais da Força Aérea e do Exército, bem como o Almirante que representava a Marinha.

Depois deste acto, voltámos até ao Aeroporto de Sá da Bandeira, onde nos foi servida uma pequena refeição ao balcão do bar. Mas, com tantos oficiais generais e doutras patentes de oficiais superiores, os oficiais com patentes inferiores, sargentos e praças não se atreviam a aproximar do balcão onde estavam expostos os frios, pastelaria diversa e bebidas.
Aeroporto de Sá da Bandeira

Resolvemos, um grupo de nós, almoçarmos em Luanda na Base Aérea, onde chegámos às 15h00.

Foi difícil convencer os responsáveis pelo refeitório a dar-nos o almoço.
Mas lá conseguimos...




A VISITA DO CHEFE DE ESTADO


Tempos depois, o Governador Geral de Angola teve outro acto a cumprir, esse acto era a Visita Oficial do Presidente da República àquela ex-Província Ultramarina Portuguêsa, Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz.

Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz


Essa visita oficial originou que o Governador Geral reunisse com os mais altos representantes das Forças Armadas e, da Marinha, da Força Aérea e do Exército foram disponibilizados homens para prestar Guarda de Honra ao Chefe de Estado durante vinte e quatro horas/dia e ao Palácio do Governador que passou a ser residência oficial do Almirante Américo Thomaz, sua esposa, Senhora Dona Gertrudes Thomaz e de outras entidades de sua comitiva.

Cumprindo um programa de visitas a diversas zonas de Angola, e antes de regressar a Lisboa, o Chefe de Estado ofereceu um jantar e um pôr de Sol nos salões e jardins do Palácio do Governo.

Palácio do Governo Geral de Angola


Passados dois anos, por anuência do Comandante da 2ª Região Aérea, passei à disponibilidade em Luanda e ingressei na vida civil...

Foram para mim, momentos de Glória.

Ainda estive no Aeródromo de Cabinda dentro das minhas actividades na Força Aérea.

Em Luanda, fui louvado e recebi a medalha dos Combatentes no Norte de Angola.



3 comentários:

  1. Mais uma fiquei deliciada com este seu artigo!!! Continuo a "viajar" consigo,sem pedir licença a ninguem! Mas tambem já sou uma acompanhante habitual!!

    Que maravilha rever o aeroprto da ilha do Sal!! Desembarquei lá hás 3,00h da madrugada,recem casada, e levava um lindo ramo de rosas que o meu pai me tinha oferecido na partida!
    Comentário do funcionário da alfandega:" Oh flores,já não as via há mais de um ano"!
    Calcula como fiquei. Depois um colega do então meu marido disse que nos dava um garrafão de água para levarmos para casa. Fiquei surpresa,mas não disse nada.
    Quando chegamos a casa é que eu entendi; a água canalizada era do mar!!! Aquela água era,depois de fervida e filtrada,nós podermos beber!!!!!

    Imagine uma menina que sai de Lisboa com um relativo conforto, e vai para uma ilha onde tinha 30 litros de água doce,por semana,para ferver e filtrar,e depois poder cozinhar e beber!!!!
    Acho que os dois anos que lá estive deram para pagar muitos pecados!!!

    E com isto termino,para não o maçar mais.

    Um abraço e um beijo de carinho da mana Maria Manuela

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    1. Pois eu, Querida Amiga,
      Sempre que aterrava em Cabo Verde, no Aeroporto da Ilha do Sal, também era sempre de noite. Quase sempre entre a uma e as três horas da madrugada.
      Efectivamente, cada bebida que tomava (refrigerantes) tinha um saber esquisito. E fiquei a saber que o defeito era da água.
      Quanto à sua situação, é de muita graça a cena que me conta desde o ramos de flores ao garrafão da água.
      Não era normal uma menina de bem, casada de fresco ficar sujeira a toda uma série de contrariedades.
      Mas, certamente acabou por se adaptar .
      Nos voos que efectuei, além da Ilha do Sal, também fazia escala em São Tomé.
      Aeroporto perigoso, com pista curta e no fim da qual apareciam enormes árvores o que fazia perigar as manobras de deslocação.
      Era tão perigoso que um DC 6 dos Transportes Aéreos Militares quando voava de Luanda para Lisboa e teve que aterrar naquele aeroporto, ao levantar foi apanhado pelas aludidas árvores porque o piloto não se preveniu daquela armadinha.
      O avião caiu e nele morreram todos os passageiros (uma companhia inteira de teatro de revista) que tinha estado em Angola a actuar para as Forças Armadas.
      Também com um DC 6 houve outra situação grave. Caiu em pleno oceano em frente a Las Palmas. A sorte é que ficou a flutuar e não morreu ninguém.
      Comigo,quase acontecia um drama. Num voo Cabinda - Luanda, num avião PV 2 consegui fazer a viagem sempre com um só motor. Claro que fiz sempre a rota sobrevoando o Oceano pois se caísse teria hipoteses de ficar a boiar.
      Mas, graças a Deus, cheguei a Luanda são e salvo.

      Um beijinho para a minha estimada mana Manuela...

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